O regime de trabalho 6x1, que submete milhões de trabalhadores brasileiros a seis dias consecutivos de trabalho com apenas um de descanso, tornou-se o símbolo de uma exploração que ignora direitos fundamentais como descanso, convívio social e saúde. No feriado de 15 de novembro, milhares de trabalhadores saíram às ruas em mais de 26 cidades, em um clamor unificado por melhores condições de vida e trabalho. Essas mobilizações expressaram uma resistência coletiva a um modelo de gestão que privilegia lucros enquanto exaure a força de trabalho.o SINTUFF marcou presença na manifetsação ocorrida na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro.
A luta pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial é uma bandeira histórica do SINTUFF e do movimento sindical combativo, uma pauta que vinha relegada a segundo plano pela maioria das centrais e federações. Historicamente, o SINTUFF impulsiona a defesa da jornada de 30 horas na UFF e incide intensamente para que essa pauta tenha protagonismo na agenda da FASUBRA e de outros espaços de luta. Essa reivindicação não é apenas uma questão técnica, mas um ato de resistência contra a exploração exacerbada e o desrespeito à dignidade da classe trabalhadora.
O impacto da escala 6x1 na saúde e na vida da classe trabalhadora
Não faltam evidências para condenar o regime 6x1 como prejudicial e arcaico. Jornadas exaustivas estão associadas a uma série de problemas de saúde, como depressão, burnout e outros transtornos mentais, além de altos índices de afastamentos por doenças ocupacionais. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil está entre os países com os piores indicadores de saúde mental entre trabalhadores. A escala 6x1 não apenas destrói a saúde física e emocional dos trabalhadores, mas também compromete sua qualidade de vida, ao privá-los de momentos fundamentais com suas famílias e comunidades.
A escala 6x1 penaliza especialmente as mulheres, reforçando desigualdades de gênero já presentes no mercado de trabalho e nas responsabilidades do lar. Esse modelo aprofunda a dupla e tripla jornadas, limitando o tempo para o autocuidado e intensificando uma divisão injusta das responsabilidades domésticas. Além disso, restringe a organização política e a participação em espaços coletivos, enfraquecendo a luta por melhores condições de trabalho e direitos.
PEC pelo fim da escala 6x1: Uma alternativa viável
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL) e pelo vereador Rick Azevedo (PSOL), visa extinguir a escala 6x1 e instituir uma jornada máxima de 36 horas semanais, garantindo mais tempo de descanso sem perda salarial. Essa proposta ganhou amplo apoio popular, com mais de 2 milhões de assinaturas em um abaixo-assinado organizado pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT). No entanto, enfrenta resistência de grandes empresários e seus representantes políticos que, em defesa de seus privilégios e lucros exorbitantes, se opõem sob o argumento de possíveis impactos econômicos negativos.
Os números, contudo, mostram o contrário. Experiências internacionais, como as semanas de trabalho reduzidas no Reino Unido e Japão, revelam que investir no bem-estar dos trabalhadores aumenta a produtividade e reduz custos com saúde. O discurso dos grandes empresários e da extrema direita, que defendem a manutenção de jornadas exaustivas, é uma tentativa de perpetuar uma lógica que prioriza seus luxos e futilidades acima da vida de cada trabalhador ou trabalhadora.
A passividade do governo Lula-Alckmin
O governo Lula-Alckmin tem adotado uma postura passiva diante das demandas por melhorias nas condições de trabalho. Não há avanços concretos na revogação da reforma trabalhista de Temer ou da reforma da Previdência de Bolsonaro. No caso específico do fim da escala 6x1, o governo tem mantido uma posição de apática, a ponto do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, propor que o tema fosse delegado à negociação coletiva entre patrões e empregados, uma lógica que obviamente favorece os empregadores. Já o ministro da Economia Fernando Haddad, tem se esquivado do assunto, enquanto concentra suas forças num pacote de ajuste fiscal que exaure os recursos das áreas sociais para abastecer o mercado financeiro, através do imoral sistema de juros e amortizações da dívida pública.
É necessário unificar as lutas
O avanço na luta contra a escala 6x1 depende da organização e da mobilização da classe trabalhadora em todo o país. A unificação das centrais sindicais, federações e movimentos sociais em torno dessa pauta é essencial. É preciso um plano de lutas que intensifique as ações em defesa da redução da jornada de trabalho sem redução salarial, pressionando o governo e o parlamento a atender às demandas da população trabalhadora.
Além disso, a mobilização deve ir além da questão da escala 6x1, englobando a revogação das reformas trabalhista e previdenciária, o combate à terceirização e o aumento de investimentos em saúde e educação. É necessário expor as contradições de setores que insistem em aprofundar a precarização do trabalho enquanto defendem privilégios de uma elite econômica e de castas no judiciário, no parlamento e no executivo.
A luta pelo fim da escala 6x1 é um marco no combate à exploração e pela valorização do trabalho. Não se trata apenas de conquistar mais tempo de descanso, mas de estabelecer um modelo de desenvolvimento que respeite a dignidade humana. O SINTUFF reafirma seu compromisso histórico com essa causa e com a construção de um movimento sindical combativo, que continue a avançar na defesa dos direitos da classe trabalhadora
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