Fonte: CSP-Conlutas
A forte onda de calor que atinge o centro-oeste e o sudeste do Brasil acarretou que ao menos 1.200 municípios entrassem em alerta máximo. Muito além de um fenômeno esporádico, as temperaturas recordes registradas evidenciam que o debate sobre a influência do capitalismo sob o clima é mais do que necessário.
O Rio de Janeiro registrou uma sensação térmica de 58,2°C na manhã de terça-feira (14/11). A marca é alarmante não apenas pelo incômodo que pode causar no dia a dia, mas especialmente pelos riscos à saúde. Com uma população de quase dois milhões de pessoas morando em favelas, sob condições precárias, as chances de adoecimentos e óbitos aumentam. A insolação, a desidratação, problemas cardiovasculares e de pressão arterial são alguns fatores que podem levar a óbito.
A pesquisa Salud Urbana en America Latina (SALURBAL), que teve a participação da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concluiu que temperaturas extremas estavam relacionadas à mortalidade por doenças cardiovasculares.
Em dias muito quentes, a elevação de 1ºC na temperatura esteve relacionada ao aumento de 5,7% nas mortes, especialmente entre idosos e crianças, que são o grupo mais vulnerável. As estatísticas de saúde pública estão ligadas a um universo maior de fatores.
Morte em show e falta de energia
Uma jovem de 23 anos veio a óbito após passar mal devido ao forte calor enquanto assistia o show da cantora Taylor Swift, no estádio Nilton Santos, na sexta-feira (17). No local, a sensação de calor chegou a insuportáveis 59,3 graus. Fãs relataram a proibição da entrada de água. Lá dentro, um copo de água era vendido a R$ 8 cada. A demanda era tão alta que alguns ambulantes passavam sem o produto. Cerca de 1000 pessoas passaram mal. Devido ao calor extremo, a cantora adiou a segunda noite de shows. Esse é o resultado da busca desmedida pelo lucro.
Como resultado da onda de calor, fortes chuvas com rajadas de vento fortíssimas assolaram o Rio de Janeiro e outros estados, causando rastros de destruição. Diversos pontos de Niterói e São Gonçalo passaram longos períodos sem energia elétrica, com a população sofrendo pelo descaso da concessionária privada Enel, que deixou alguns bairros por mais de 48 horas sem eletricidade. A população, em protesto, montou barricadas e fechou ruas exigindo o retorno da luz.
Aquecimento global e crises climáticas
Em 22 de julho deste ano, o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) deu o ultimato. Os seres humanos têm apenas 6 anos para evitar um nível jamais visto de catástrofes climáticas.
Caso o planeta siga no ritmo atual de aquecimento, em 2029, teremos uma Terra com febre e 1.5°C mais quente. Esse índice é o suficiente para entrarmos num caminho sem volta em que o clima extremo irá penalizar populações inteiras, em especial os mais pobres.
Estamos falando de tempestades de areia, ondas de calor, enchentes, aumento do nível do mar e extinção de diversas espécies da fauna e da flora.
Os eventos climáticos já registrados em 2023 no Brasil são sintomas. A região amazônica enfrenta a seca mais severa dos últimos 40 anos e um aumento dos focos de incêndio, alta concentração de fumaça e calor extremo. Já o sul do país enfrentou três ciclones em poucos meses. A influência do fenômeno El Niño explica parte do problema, mas não apaga a influência de sistema econômico predominante.
Exploração da natureza pelo lucro
Desde que se tornou o sistema vigente de produção e organização da sociedade humana, o capitalismo avançou sem freios na exploração da natureza. Toda produção consome recursos naturais e os resíduos, muitas vezes tóxicos, são depositados de volta ao meio ambiente.
O caráter predatório do capitalismo, sempre em busca do lucro e produtividade máxima, mudou o planeta para sempre. Paisagens inteiras foram alteradas, a temperatura de nossa casa também e, talvez o mais grave, nossa atmosfera.
Os animais e o ser humano se desenvolveram num ambiente que os permitia viver e evoluir. Mas a ação do capitalismo transformou essa realidade a ponto do planeta poder ser um lugar hostil à vida como conhecemos.
A extinção da vida pelo aquecimento global já está acontecendo. Segundo estudos, de 1970 a 2014, o tamanho da população de vertebrados diminuiu 60% em média. Caso esta tendência não seja freada, o mais provável é que ocorra um processo de extinção em massa, que pode por fim à história da civilização humana.
Capitalismo não oferece solução para a crise ambiental
As soluções para os problemas criados pelo capitalismo não serão encontradas neste sistema econômico. A desigualdade social, a pobreza, a fome e o aquecimento global só terão fim quando o próprio capitalismo for superado, num modelo de sociedade que atenda os interesses da classe trabalhadora, onde seja viável cuidar o planeta e imaginar um futuro para os seres-humanos.
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