A falsa guerra ao crime e a quem serve a política de Cláudio Castro
- SINTUFF

 - há 5 dias
 - 3 min de leitura
 

A megaoperação que atingiu os Complexos do Alemão e da Penha, com mais de cem mortos, expôs o fracasso de um modelo de segurança que privilegia espetáculo, letalidade e improviso. A mobilização massiva de homens, blindados e helicópteros tem custo público alto, impacto humano imediato e, na maioria dos casos, nenhum ganho estrutural no controle do crime. Quando a métrica é o número de corpos, a cena se resolve para a imprensa, mas não para a segurança pública que aspire por persistência e prevenção.
Letalidade não reduz criminalidade
Levantamentos do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF mostram que a esmagadora maioria das operações na Região Metropolitana do Rio não alcança resultados efetivos na contenção de redes criminosas. Em termos práticos, muitas ações produzem mortes e deslocamentos, mas raramente apreensões significativas de estruturas financeiras, cadeias logísticas ou liderança criminosa responsável por manter o negócio em pé. O padrão é conhecido. A intervenção amplia custos operacionais e reduz investimentos em inteligência, investigação e políticas sociais, que teriam maior potencial para desarticular o crime organizado a médio e longo prazos.
A guerra aos pobres e o cálculo eleitoral
Quando estruturas de crime atuam a partir de territórios pobres, a escalada militar é a regra. Quando atores com ligações políticas, empresariais ou de classe alta são investigados, a abordagem tende a ser mais judicial e menos letal. O caso do deputado estadual TH Joias, preso em setembro de 2025 sob acusações de intermediação de armas e lavagem de dinheiro vinculadas a organizações criminosas, ilustra essa assimetria. Fotos de convivência social entre figuras políticas e investigadas produzem discussão, mas não o mesmo aparato de intervenção que se vê nas favelas. Essa diferença revela que a geografia social e a visibilidade do acusado influenciam o modo como o Estado aplica violência.
A atual vocação repressiva se insere em um quadro político no qual a retórica de “lei e ordem” funciona como ativo eleitoral. Governos como o de Cláudio Castro transformam operações letais em vitrines de eficiência e capital político, sobretudo em períodos de desgaste administrativo e crise de popularidade. A violência de Estado é convertida em espetáculo, projetada nas telas e redes sociais como demonstração de autoridade. Na prática, porém, o que se apresenta como resposta à criminalidade é uma política de guerra dirigida às periferias. A bala e o bloqueio substituem investimentos em educação, moradia e inclusão. E o preço dessa encenação é pago pela juventude negra e pobre, por trabalhadoras e trabalhadores das comunidades que veem seu cotidiano tomado pelo medo.
Além disso, a repetição histórica de chacinas mostrou que elas não extinguiram o tráfico nem reduziram permanentemente a circulação de armas. Em geral, o controle territorial se reorganiza, havendo troca de grupos, ascensão de milícias e continuidade do mercado ilegal. A letalidade produz deslocamentos e rupturas familiares, sem gerar a paz que é anunciada como objetivo.
A chacina no Alemão e na Penha insere-se nesse mesmo padrão histórico de seletividade punitiva que atravessa o país. Governos que se sustentam na retórica de força, como os de Tarcísio de Freitas, Cláudio Castro e Jair Bolsonaro, e repetem ciclos de violência que marcam a história brasileira, de Eldorado dos Carajás a Vigário Geral, e naturalizam a ideia de que o Estado só é eficaz quando mata. A repressão é usada como ferramenta de coesão entre setores conservadores e como cortina de fumaça para a ausência de políticas sociais.
Responder com mobilização nas ruas
No cenário internacional, operações militares e incursões repressivas são cada vez mais justificadas sob a retórica do “combate às drogas” ou da “guerra ao terror”, servindo de pretexto para intervenções que violam direitos humanos e soberanias nacionais. No mesmo momento em que o governo estadunidense de Donald Trump promove ações militares contra Venezuela e Colômbia com essa justificativa, e enquanto o governo de Benjamin Netanyahu rompe o cessar fogo em Gaza, o Brasil não pode adotar estratégias que militarizam o cotidiano, reforçam a letalidade e transformam a segurança pública em espetáculo de força. É imprescindível investigar, exigir transparência, resistir à transferência de técnicas repressivas externas que servem a agendas políticas e não à proteção da população e punir os responsáveis por essas operações ilegais.
A resposta deve ser social, democrática e organizada: fortalecer a mobilização nas ruas, unificar movimentos sociais, estudantil e sindicatos para exigir o fim das operações policiais, o fora Cláudio Castro e uma jornada de lutas contra a política genocida dos governos de extrema-direita.








Comentários