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  • Foto do escritorSINTUFF

O povo trabalhador do Paraguai mostra o caminho contra a pandemia


Os acontecimentos políticos que se desenvolvem no Paraguai, desde o dia 5 de março, merecem a atenção de todas as organizações da classe trabalhadora na região e no mundo. A explosão social que atravessa o país expressa, neste momento, o ponto mais elevado de resistência, nas ruas, à política criminosa que os diferentes governos capitalistas aplicam face à pandemia de Covid-19.

Todos os problemas que indignam o povo, que não parece estar disposto a abandonar as ruas diante dos primeiros recuos do governo colorado de Mario Abdo Benítez (conhecido como Marito), já existiam antes da pandemia. O efeito combinado da dupla crise, sanitária e econômica, só os exacerbou até torná-los insuportáveis.

Durante os primeiros meses da pandemia, o caso paraguaio era mencionado como exemplo de contenção do vírus. O governo estabeleceu medidas de isolamento especialmente duras, como o toque de recolher ou o fechamento das fronteiras. Estas restrições à circulação surtiram efeito no contexto de uma população majoritariamente jovem (58% tem menos de 30 anos de idade) e um alto nível de ruralidade (38%).

Entretanto, a contrapartida da desaceleração dos casos de Covid-19 foi um aumento espantoso da crise social. O índice oficial do desemprego alcançou 8,2% em 2020, que no caso das mulheres significou 11,5%. Sem medidas de assistência social significativas (o auxílio consistiu, basicamente, em 77 dólares para cerca de 300.000 famílias), a paralisia econômica causou estragos em um mercado de trabalho com alto índice de informalidade (70%)[1].

Mesmo assim, até 8 de julho de 2020 morreram 20 pessoas por Covid-19. Porém essa realidade começou a mudar quando, a partir de junho, as medidas de isolamento físico foram relaxadas, sobretudo a partir da exigência empresarial de “reabrir” a economia. Hoje a pandemia está fora de controle. Se em 14 de fevereiro deste ano foram contabilizados 599 casos, em 9 de março já eram 2.125 infectados. O total de mortos sobe para 3.387, sem considerar os casos não registrados[2].

Isto levou a uma tragédia anunciada: o colapso do precário sistema de saúde pública. De acordo com dados de 2018, 73% da população não conta com nenhum tipo de cobertura médica. Na área rural, este indicador alcança 86%[3]. Em outras palavras, o povo pobre que sobrevive da informalidade está abandonado à sua própria sorte. Para uma população de mais de sete milhões de pessoas, o Paraguai conta com 636 leitos de terapia intensiva. Mas nem todos os leitos contam com os medicamentos nem pessoal especializado indispensável. Existem apenas 200 médicos especializados em terapia intensiva[4].

Em primeiro lugar, isto é o reflexo de uma política deliberada de destruição do sistema público de saúde. O país investe em saúde somente 3% do PIB, quando a OMS recomenda pelo menos 6%. Mas a coisa é ainda mais indignante quando toda a sociedade sabe que, há um ano, o governo de Marito acordou um crédito internacional de 1,6 bilhão de dólares justamente para a compra de insumos e medicamentos. A pergunta que, com razão, percorre as ruas é: onde está esse dinheiro?

O colapso acarretou que todos os gastos médicos recaíssem sobre as famílias dos pacientes internados. Nas semanas anteriores à explosão social, houve cenas dramáticas de médicos, enfermeiras, parentes de doentes que clamavam por insumos e medicamentos básicos, mas muito caros. O desespero cresceu e, com ele, o descontentamento. A humilhação cotidiana alimentava a raiva. Muitas famílias ficaram arruinadas.

Este foi o terreno fértil para a fúria popular: fome, desemprego, colapso sanitário, negligência, corrupção descarada. O povo não tardou em realizar seu “julgamento político” contra o governo criminoso de Marito.

Além disso, a campanha de vacinação no país é uma das mais atrasadas da região. Até o início de março, o número total de doses adquiridas pelo governo paraguaio não era suficiente para vacinar sequer os profissionais de saúde.

Desde 5 de março caíram quatro ministros: da saúde, da educação, da mulher e do gabinete civil. E a classe trabalhadora do Paraguai não parece satisfeita. Massas de trabalhadores se mantém nas ruas, mobilizados, exigindo a saída de Mario Abdo Benítez. Mas os protestos não se restringem ao presidente, mas a outros políticos e partidos tradicionais paraguaios como Horácio Cartes (do partido liberal PLRA), demonstrando um grande desgaste do próprio regime político. Ou seja, a compreensão do problema não se reduz a interpretar que a crise atual deriva apenas da responsabilidade do atual governo e isto amplia o horizonte dos protestos. O grito de guerra que percorre Assunção é o mesmo dos panelaços argentinos de 2001: “que saiam todos, que não fique nenhum”.


O SINTUFF manifesta todo apoio a essa rebelião popular no Paraguai.

Abaixo o governo de Mario Abdo Benitez!

Vacinas para todos já!

Estatização dos hospitais e laboratórios privados!

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