O IV Encontro do Interior do SINTUFF, realizado no Campus Aterrado (Volta Redonda), nos dias 4, 5 e 6 de novembro, foi iniciado com força e engajamento, marcando o retorno do evento após quase seis anos. Reunindo servidores técnico-administrativos de diversos campi, o primeiro dia foi marcado por discursos potentes e debates sobre os rumos do movimento sindical e as políticas que impactam a universidade.
Abertura: acolhimento e celebração
Representantes sindicais e acadêmicos ressaltaram o significado do evento. Cleide Cristina, Luiz Carlos e Wagner Peres, representando a Coordenação do SINTUFF, enfatizaram a importância da unidade entre os servidores do interior para superar os desafios enfrentados pela categoria. A professora Vera Lucia, diretora do Instituto de Ciências Exatas (ICEX) saudou o Encontro, relembrou a trajetória de crescimento da UFF em Volta Redonda e enalteceu o impacto da interiorização. Ela destacou a satisfação de participar do evento e a relevância do debate para os servidores. Participantes dos diversos campi também saudaram o espaço.
Reflexões sobre conjuntura e mobilização da categoria
O ponto alto do primeiro dia foi a mesa de conjuntura, que trouxe ao centro das discussões as diferentes visões de Pedro Rosa, ex-coordenador do SINTUFF e da FASUBRA, e Francisco de Assis (Chiquinho), da coordenação da FASUBRA. Ambos abordaram as dificuldades enfrentadas pela categoria, mas suas falas trouxeram enfoques distintos sobre os rumos da luta sindical.
Pedro Rosa, em sua fala, enfatizou a importância de uma postura independente das direções sindicais. "Hoje a maioria das direções das grandes centrais e das federações transformaram a entidade em um dique para blindar o governo Lula e o petismo, como se fôssemos obrigados a silenciar diante da política, mesmo que a política seja de ataque à nossa categoria."
Pedro Rosa também criticou o desfecho da última greve, apontando que questões fundamentais, como o reposicionamento dos aposentados, foram negligenciadas. "Reposicionamento dos aposentados: colocou para GT para ver viabilidade financeira. 30 horas, que é uma pauta que não é financeira, sequer foi amarrada em um detalhamento no termo de acordo garantindo que fosse para todos. Jogou para GT. E a gente avisou: GT é enrolação."
Já Francisco de Assis (Chiquinho) apresentou uma visão que enfatizou os limites impostos pelo cenário político atual ao governo e à categoria. Ele defendeu a necessidade de articulação com aliados como estratégia fundamental da luta institucional. "Hoje nós temos 130 parlamentares de 513. Esse é o número que nós temos para votar a favor dos trabalhadores. Então, não adianta ter o discurso bonito de fazer o discurso revolucionário se eu não tenho voto dentro do Congresso."
Chiquinho também destacou as ações realizadas durante a greve e os avanços obtidos, ainda que limitados, num contexto de restrições orçamentárias. "Quando a gente deflagrou a greve, observava a necessidade de fazer esse tensionamento para cima do governo, porque quem estava à frente do processo negocial estava tentando nos enrolar."
Apesar das diferenças, ambos convergiram na necessidade de fortalecer a base e promover maior mobilização: "O que nos une é a pauta concreta da categoria," afirmou Chiquinho, enquanto Pedro Rosa reforçou: "É somente a nossa unidade que vai fazer pressão para que o governo entenda a importância e valorize a nossa categoria.
Segundo dia: Identificar e Combater o Assédio Moral no Ambiente de Trabalho
No segundo dia do IV Encontro do Interior, a advogada Dra. Dalila Pinheiro, membro da Assessoria Jurídica do SINTUFF há mais de 10 anos, abordou o tema do assédio moral no trabalho. Em sua apresentação, ela destacou a importância de esclarecer conceitos e diferenciar práticas, além de reforçar a necessidade de enfrentar essa questão de maneira coletiva.
Dalila iniciou definindo o assédio moral como uma prática reiterada de constrangimento, marcada por relações de hierarquia e com o objetivo claro de ofensa ou degradação moral, psicológica ou funcional da vítima. “Diferentemente de um ato isolado de constrangimento, o assédio moral exige a repetição e geralmente ocorre onde há negligência na implementação de políticas contra essa prática”, explicou.
A advogada detalhou que o assédio moral pode se manifestar de diversas formas, desde a sobrecarga de trabalho incompatível até a exclusão deliberada de atividades. "É um erro pensar que só a humilhação pública caracteriza o assédio. Privar o trabalhador de tarefas também pode ser uma forma silenciosa de assédio, que muitas vezes resulta em adoecimento psicológico", ressaltou.
Ela também alertou para práticas nocivas no trabalho remoto, como cobranças excessivas fora do horário e metas impossíveis de alcançar. Segundo Dalila, essas situações também podem configurar assédio moral e precisam ser analisadas cuidadosamente.
Dalila apontou que o assédio moral frequentemente causa abalos emocionais e psicológicos severos, que levam a dúvidas sobre a própria capacidade profissional. “O adoecimento não é sinal de fraqueza; é uma consequência direta dessas práticas”, afirmou, destacando que muitos casos evoluem para afastamentos, licenças ou até pensamentos suicidas.
Ela destacou a dificuldade de comprovar assédio moral sem registros adequados. “E-mails, diários detalhando eventos e até gravações, quando feitas de forma ética, são fundamentais para construir provas robustas”, aconselhou. A advogada também reforçou a importância de envolver testemunhas e registrar denúncias na ouvidoria da instituição.
Embora ações judiciais sejam possíveis e tenham gerado precedentes favoráveis, Dalila enfatizou a necessidade de uma abordagem coletiva. "O assédio moral é muitas vezes uma política de gestão negligente. Precisamos de solidariedade no ambiente de trabalho para identificar e combater essas práticas de forma eficaz”, defendeu.
Sobre a indenização, ela explicou que, embora existam ganhos individuais em processos judiciais, os valores geralmente são baixos e insuficientes para desestimular a prática. “Mais do que buscar compensação, o objetivo deve ser implementar políticas que previnam o problema.”
A fala de Dra. Dalila Pinheiro destacou que o combate ao assédio moral começa pela conscientização e pelo fortalecimento das políticas institucionais. "Denunciar, registrar e buscar apoio jurídico e psicológico são passos essenciais para cessar essas práticas e proteger a dignidade dos trabalhadores", concluiu.
Mesa sobre Carreira, PCCTAE e PGD
Na tarde do dia a mesa de debate foi sobre a carreira dos técnicos administrativos em educação, o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE) e o Programa de Gestão e Desempenho (PGD). O espaço trouxe contribuições cruciais de Lucia Vinhas, coordenadora geral do SINTUFF e membro da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira, e dos coordenadores do Interior, Cleide Cristina e Luiz Carlos Andrade Vieira. Luiz Carlos também integra a Comissão Interna de Supervisão (CIS) do Plano de Carreira, na UFF.
Lucia Vinhas apresentou um panorama sobre os desafios e conquistas recentes da categoria. Ela relembrou que o PCCTAE foi concebido como uma alternativa ao modelo de cargo único, que foi considerado inconstitucional. "Nós não fazíamos parte da identidade universitária; éramos os 'não-docentes'. Hoje, somos técnicos administrativos em educação, atores nesse espaço acadêmico", afirmou. No entanto, enfatizou que o plano ainda carrega limitações severas, como a falta de uma verdadeira carreira: "O que temos é um plano de cargos e salários, que limita a ascensão funcional sem novos concursos."
Luiz Carlos reforçou algumas conquistadas após a última greve, como a redução do tempo de progressão por mérito de 18 para 12 meses, destacando que o novo modelo de avaliação será implementado a partir de janeiro de 2025. Ele também mencionou a reorganização da tabela de capacitação, agora expandida de 16 para 19 níveis. "Isso permite uma progressão mais rápida, mas depende de avaliações anuais positivas, que não serão automáticas", explicou.
Já Cleide Cristina ressaltou os desafios para os trabalhadores do interior, especialmente no acesso às discussões nacionais. Ela propôs maior integração dos representantes regionais nas decisões, sugerindo a criação de um drive com materiais atualizados e relatórios para garantir que as informações cheguem a todos os servidores. "As decisões tomadas em Brasília e Niterói precisam alcançar o interior de forma mais eficiente", declarou.
A mesa também abordou o Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC), que, segundo Lucia, ainda está em definição: "O RSC busca valorizar atividades além das funções tradicionais, mas sua implementação requer critérios claros para evitar exclusões." Complementando a fala, Cleide alertou para a exclusão dos aposentados e de parte dos servidores do RSC, uma questão que permanece em discussão nos grupos de trabalho.
O debate foi encerrado com uma chamada à mobilização da categoria para enfrentar os desafios que persistem na reestruturação da carreira e a necessidade de fortalecer o movimento sindical para garantir que os avanços sejam mantidos.
Encerramento
O último dia do Encontro encaminhou as diversas pautas dos(as) sevidores(as) dos campi do interior, que serão sistematizadas para divulgação em breve. A sistematização das reivindicações e demandas incorporarão as reivindicações das unidades que não conseguiram enviar representação ao Encontro.
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