EUA taxam Brasil com apoio do clã Bolsonaro: resposta precisa ser à altura
- SINTUFF
- 22 de jul.
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Atualizado: há 3 dias
O anúncio de Donald Trump, presidente dos EUA, em impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros marca uma escalada nas tensões econômicas e políticas entre Estados Unidos e Brasil. A medida afeta setores estratégicos da economia nacional, como as exportações de carne bovina, café, suco de laranja e derivados de aço, e se insere em um contexto de retaliação ideológica: Trump tem criticado abertamente o julgamento dos golpistas de 8 de janeiro no Brasil, defendido as big techs investigadas por facilitar a desinformação e apoiado a narrativa bolsonarista de perseguição judicial.
A justificativa divulgada pela Casa Branca, de que os EUA estariam sofrendo com uma balança comercial “desfavorável” em relação ao Brasil, não encontra respaldo nos dados oficiais. Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, o país teve em 2024 um superávit de US$ 7 bilhões em bens na relação bilateral, que chega a US$ 28,6 bilhões quando somados os serviços. O comércio exterior com o Brasil, portanto, continua sendo altamente vantajoso para os estadunidenses, o que desmonta o argumento protecionista e expõe o caráter político da sanção.
Bolsonaro e a extrema-direita atuam de forma criminosa contra o Brasil
Essa ofensiva também se articula com a atuação direta da extrema-direita brasileira nos EUA. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem atuado como interlocutor da extrema-direita brasileira em Washington, fazendo lobby junto a membros do governo estadunidense para pressionar o Brasil através de sanções. Trata-se de uma ação deliberada para punir o país em represália ao julgamento de Bolsonaro, com consequências econômicas diretas à população brasileira.
A medida é mais um episódio do histórico comportamento imperialista dos EUA na América Latina, em que interesses políticos e econômicos se sobrepõem à soberania dos países da região. A estrutura comercial desigual entre Brasil e EUA aprofunda esse quadro: exportamos majoritariamente produtos primários ou semi-industrializados (petróleo bruto, minério de ferro, carne, pasta de celulose), enquanto importamos itens de alto valor agregado, como máquinas, motores e produtos farmacêuticos, o que limita nosso desenvolvimento industrial e tecnológico.
Governo brasileiro não rompe interesses do mercado financeiro e das multinacionais
O governo Lula respondeu à ofensiva tarifária convocando o representante da embaixada dos EUA para prestar esclarecimentos e anunciando que acionará a chamada “Lei Brasileira de Reciprocidade Econômica”. No entanto, essa resposta se limita a ações no campo retórico e gestos formais, pois o próprio governo mantém, assim como gestões anteriores do PT, uma política externa subordinada aos interesses das multinacionais, do capital financeiro e das potências imperialistas. Ao invés de enfrentar com firmeza a agressão de Trump, o governo tem optado por negociações diplomáticas estéreis, que priorizam a as relações com o sistema financeiro e conglomerados empresariais. Nem mesmo os BRICS, bloco que inclui a Rússia e a China, ofereceram qualquer resistência à recente ofensiva dos EUA sobre o Irã, membro do grupo. Esses países continuam negociando com Trump, apesar do discurso crítico. Enquanto isso, o Brasil já havia sido alvo de tarifas no passado, como a de 10%, e novamente o governo respondeu com submissão, sem romper com os pilares da dependência.
É preciso responder ao tarifaço com ampla mobilização
Diante da gravidade do ataque liderado por Trump, a conjuntura demanda uma resposta que vá além dos limites da diplomacia formal. É essencial que centrais sindicais, movimentos populares e sociais construam uma ampla mobilização em defesa da soberania brasileira. Essa resposta deve incluir a exigência de medidas concretas por parte do governo, como a taxação das receitas das multinacionais estadunidenses, o controle da remessa de lucros ao exterior, a retirada de agentes diplomáticos que interfiram nos assuntos internos do país e o rompimento das relações com o Estado de Israel. No plano institucional, é necessário enfrentar as amarras impostas por estruturas econômicas, como o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, o arcabouço fiscal, a autonomia do Banco Central e os compromissos com o FMI, que restringem a capacidade do Estado de investir em políticas públicas e desenvolvimento soberano. Também é imprescindível que se avance na responsabilização dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro, incluindo figuras centrais como o deputado Eduardo Bolsonaro, com cassação de mandato e condenação judicial. Somente com medidas dessa natureza, será possível romper com a lógica de subordinação e construir um projeto de país autônomo, comprometido com os interesses da maioria da população.
A tarifa imposta por Trump é mais do que uma disputa comercial: é uma tentativa de impor um alinhamento político reacionário à força, com apoio da extrema-direita brasileira. Cabe ao Brasil, e à classe trabalhadora em especial, responder à altura, defendendo o país do assédio imperialista e da sabotagem interna promovida por aqueles que, mesmo brasileiros, atuam contra os interesses nacionais.
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