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Repúdio à fala racista do presidente da CONMEBOL

  • Foto do escritor: SINTUFF
    SINTUFF
  • 20 de mar.
  • 3 min de leitura

O recente episódio de racismo protagonizado pela torcida do Cerro Porteño contra o jogador Luighi, do Palmeiras, durante a Copa Libertadores Sub-20, mostra como o futebol sul-americano ainda lida de forma rasa com a discriminação racial. A multa de apenas US$ 50 mil aplicada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) ao clube paraguaio deixa claro que as punições são simbólicas, sem intenção real de resolver o problema.


A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, sugeriu que os clubes brasileiros considerassem se filiar à Confederação das Associações de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (CONCACAF), expressando a insatisfação com a passividade da CONMEBOL. Isso evidencia um ponto central: as medidas contra o racismo no futebol existem apenas para evitar prejuízos financeiros. As entidades esportivas não combatem a discriminação de fato, apenas gerenciam crises para manter a imagem do torneio e proteger patrocínios.


A declaração do presidente da CONMEBOL, Alejandro Domínguez, ao dizer que uma Libertadores sem clubes brasileiros seria como "Tarzan sem Chita", deixa claro o que realmente importa para os dirigentes: o mercado brasileiro. Em vez de demonstrar preocupação com os casos de racismo, Domínguez lamentou a possibilidade de perder o público e o dinheiro que os times do Brasil movimentam. Além disso, ao escolher uma metáfora que remete a um macaco para falar de clubes brasileiros, reforçou como ideias racistas continuam enraizadas entre os gestores do futebol. Sua fala reflete um pensamento comum nesse meio, onde estereótipos raciais são reproduzidos sem grande resistência.


O racismo no futebol não é apenas um problema de comportamento de torcedores(as), mas um reflexo da estrutura que sustenta o esporte. As entidades que controlam o futebol global tratam a discriminação como um problema de relações públicas, e não como uma questão de direitos humanos. Enquanto a prioridade for proteger lucros e interesses comerciais, o racismo seguirá sendo tolerado, tratado como um episódio isolado, e não como parte de um sistema de exclusão que atravessa o futebol e a sociedade de forma mais ampla.


A estrutura do futebol sul-americano reflete uma desigualdade que vai além das quatro linhas. Os principais clubes do continente, mesmo os mais ricos, estão subordinados a um modelo de governança que privilegia os interesses de um pequeno grupo de dirigentes e patrocinadores, que controlam as decisões e impõem punições apenas quando a pressão externa ameaça seus interesses econômicos. A CONMEBOL, assim como a FIFA, historicamente adota uma postura leniente com episódios de racismo, tratando-os como desvios individuais e não como sintomas de um problema estrutural. Essa lógica permite que a discriminação siga existindo sem enfrentamento real.


Além disso, o caso do Cerro Porteño não é isolado. O racismo tem sido uma constante nas competições organizadas pela CONMEBOL, mas a resposta das entidades sempre se limita a punições financeiras irrelevantes, sem nenhuma ação educativa ou transformadora. Não há programas efetivos para conscientização de torcedores(as), jogadores(as) e dirigentes, tampouco existe um mecanismo de responsabilização que obrigue os clubes a adotarem medidas concretas para combater a discriminação em seus estádios.


A fala de Domínguez não pode ser vista como um mero deslize verbal, mas como um sintoma de um problema mais profundo. O racismo estrutural no futebol não se expressa apenas nas arquibancadas, mas também na forma como os dirigentes tratam a questão: com descaso, minimização e, em alguns casos, até conivência. Enquanto isso, jogadores(as) negros(as) seguem sendo alvo de ataques, sem que as entidades que controlam o esporte tomem medidas que realmente protejam os atletas e transformem o ambiente do futebol.


Portanto, o debate sobre racismo no futebol precisa sair do campo das campanhas publicitárias vazias e das punições inócuas para um enfrentamento real. Sem mudanças estruturais e sem um compromisso genuíno das entidades esportivas, os casos de discriminação continuarão a se repetir, e o futebol seguirá sendo um reflexo cruel das desigualdades que atravessam a sociedade. A classe trabalhadora, que corresponde à ampla maioria da massa de consumidores de futebol, precisa amplificar a pressão contra o racismo e a elitização do futebol.

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