Um incêndio atingiu o Laboratório Didático de Físico-Química 101C da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Instituto de Ciências Exatas (ICEX), em Volta Redonda, na madrugada de segunda para terça-feira (5) . Embora o incidente não tenha deixado vítimas, já que o laboratório estava vazio no momento, as chamas causaram danos materiais e colocaram em evidência problemas estruturais e a carência de investimentos em manutenção e segurança nas universidades públicas.
De acordo com o Diretório Acadêmico César Lattes, a provável causa do incêndio foi uma sobrecarga na rede elétrica, apontando para um desgaste nas instalações. O laboratório, localizado no campus do Aterrado, é parte de um projeto de expansão universitária do REUNI que transformou salas comuns em laboratórios de química, sem atender plenamente aos requisitos de segurança e infraestrutura para cursos que necessitam de equipamentos especializados. Essa adaptação inadequada impõe riscos frequentes a estudantes e técnicos de laboratório.
O incêndio reflete uma situação de precariedade que se estende para além da UFF e resulta de anos de restrições orçamentárias. Governos sucessivos vêm impondo limites severos ao financiamento das universidades públicas, uma realidade que persiste no governo atual com o Arcabouço Fiscal, que restringe a ampliação de investimentos e impõe severos bloqueios orçamentários. Essas restrições forçam a universidade a operar com um orçamento abaixo do necessário, enquanto diversas necessidades essenciais acabam sem atendimento.
No ICEX, essa falta de recursos limita as opções para manutenções preventivas, forçando a equipe a fazer o máximo com o mínimo. O cenário descrito pelo Diretório Acadêmico César Lattes é de um “cobertor curto” que mal consegue cobrir as necessidades básicas de funcionamento, deixando brechas críticas que colocam em risco a segurança dos espaços universitários.
Em meio a esse contexto, o SINTUFF reforça a preocupação da comunidade acadêmica com as condições de segurança e infraestrutura e endossa as reivindicações por melhorias e urgente recomposição orçamentária. A recente greve nacional das universidades também buscou chamar atenção para a situação insustentável em que se encontram diversas instituições públicas de ensino superior, demandando mais recursos, condições dignas de trabalho e estudo para toda a comunidade universitária.
O incidente no laboratório da UFF é mais um alerta para a crise de financiamento que afeta o ensino superior público no Brasil. Em um cenário de restrições orçamentárias crônicas, a segurança, a qualidade da formação acadêmica e a própria continuidade das atividades universitárias tornam-se cada vez mais vulneráveis.
Além de cobrar o governo, a reitoria da UFF precisa dar respostas concretas. É fundamental que abandone sua postura de distanciamento institucional e adote uma atitude mais colaborativa com os movimentos estudantil e sindical, unindo-se de forma clara à luta por condições dignas e por uma recomposição orçamentária efetiva. Os poucos avanços obtidos neste ano, ainda que insuficientes, foram resultado direto da pressão gerada pela mobilização política e pela visibilidade alcançada com a greve, enquanto a reitoria condescendia com sua base de apoio que afrontava à paralisação.
O incêndio no laboratório torna evidente a necessidade de ações imediatas e de uma gestão transparente dos recursos limitados da universidade. É essencial que a reitoria convoque a comunidade universitária para debater a crise orçamentária e definir, de forma participativa, as prioridades na aplicação dos recursos, garantindo que segurança, infraestrutura, condições de trabalho e políticas de permanência sejam tratadas como pilares indispensáveis.
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